(foto de Natã Camilo)
(crônica de caráter literário-opinativo, sem pretensões analíticas)
Já
é bastante usual em muitas cidades a presença de placas de identificação de
ruas com uma descrição referente ao indivíduo ou fato “homenageado”. Ainda que
seja informação de caráter, na maioria das vezes, institucional, não deixa de
ser um ponto de partida para algumas reflexões. A começar pelo significado de atribuir
um determinado nome, o qual na maioria esmagadora das vezes foi dado por
conveniência política por parte de quem esteve no poder. O mesmo motivo costuma
ensejar a troca de nome.
Levando
isso em conta, em minha última incursão à cidade de Torres, no litoral do Rio
Grande do Sul, chamou-me a atenção as novas placas de identificação das ruas da
cidade, que são do modelo acima citado. Algo que me deixou curioso foi a
descrição que colocariam na avenida de entrada da cidade, cujo nome é o de um
personagem controverso da História recente do Brasil. O mesmo nome que batizava
a avenida da entrada de Porto Alegre e que foi recentemente alterado (ainda que
poucos se refiram à via pelo novo nome, mas isso é assunto para uma outra
oportunidade).
Chegando
à cidade, consta na placa: “Avenida Castelo Branco”. Na descrição: “Presidente
do Brasil após o golpe militar de 1964”. Como dito antes, informação de caráter
institucional. De todos os modos, uma das reflexões surgidas foi sobre a
possibilidade de se utilizar os nomes das ruas como ponto de partida para iniciativas
de educação histórica tendo como tema os personagens e respectivos contextos históricos.
Assim
cheguei à seguinte indagação: será que, em vez de ficar alterando por “canetaço”
nomes de ruas denominadas com personagens ou eventos representantes de períodos
nefastos da História, não seria mais apropriado mantê-los e utilizar as ruas
como espaços de educação histórica? Afinal, essa ideia de que as ruas só devem
ter nomes que sejam motivo de “orgulho” não deixa de ser um resquício de uma
visão histórica com elementos positivistas, pela qual a História foi construída
pelos heróis. Tal concepção de heróis e vilões na História não passa de
maniqueísmo, visto que a ação histórica foi realizada pela interação de atores,
com suas “virtudes” e “defeitos”, que agiram tendo como pano de fundo um
contexto específico em que estavam inseridos.
Ademais,
tirar nomes referentes a períodos os quais não queremos que aconteçam novamente
não os apaga da História (diga-se de passagem, se começar a tirar todos os
nomes controversos, pode-se chegar a um ponto que não vai sobrar nome para
contar história). Por outro lado, mantê-los, juntamente com trabalho de
educação histórica, pode ser uma interessante maneira de que tais eventos não
caiam no esquecimento e que se minimizem as chances de que voltem a ocorrer.
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