quinta-feira, 2 de abril de 2015

Lição de História





(foto de Natã Camilo)

(crônica de caráter literário-opinativo, sem pretensões analíticas)

Já é bastante usual em muitas cidades a presença de placas de identificação de ruas com uma descrição referente ao indivíduo ou fato “homenageado”. Ainda que seja informação de caráter, na maioria das vezes, institucional, não deixa de ser um ponto de partida para algumas reflexões. A começar pelo significado de atribuir um determinado nome, o qual na maioria esmagadora das vezes foi dado por conveniência política por parte de quem esteve no poder. O mesmo motivo costuma ensejar a troca de nome.

Levando isso em conta, em minha última incursão à cidade de Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, chamou-me a atenção as novas placas de identificação das ruas da cidade, que são do modelo acima citado. Algo que me deixou curioso foi a descrição que colocariam na avenida de entrada da cidade, cujo nome é o de um personagem controverso da História recente do Brasil. O mesmo nome que batizava a avenida da entrada de Porto Alegre e que foi recentemente alterado (ainda que poucos se refiram à via pelo novo nome, mas isso é assunto para uma outra oportunidade).

Chegando à cidade, consta na placa: “Avenida Castelo Branco”. Na descrição: “Presidente do Brasil após o golpe militar de 1964”. Como dito antes, informação de caráter institucional. De todos os modos, uma das reflexões surgidas foi sobre a possibilidade de se utilizar os nomes das ruas como ponto de partida para iniciativas de educação histórica tendo como tema os personagens e respectivos contextos históricos.

Assim cheguei à seguinte indagação: será que, em vez de ficar alterando por “canetaço” nomes de ruas denominadas com personagens ou eventos representantes de períodos nefastos da História, não seria mais apropriado mantê-los e utilizar as ruas como espaços de educação histórica? Afinal, essa ideia de que as ruas só devem ter nomes que sejam motivo de “orgulho” não deixa de ser um resquício de uma visão histórica com elementos positivistas, pela qual a História foi construída pelos heróis. Tal concepção de heróis e vilões na História não passa de maniqueísmo, visto que a ação histórica foi realizada pela interação de atores, com suas “virtudes” e “defeitos”, que agiram tendo como pano de fundo um contexto específico em que estavam inseridos.

Ademais, tirar nomes referentes a períodos os quais não queremos que aconteçam novamente não os apaga da História (diga-se de passagem, se começar a tirar todos os nomes controversos, pode-se chegar a um ponto que não vai sobrar nome para contar história). Por outro lado, mantê-los, juntamente com trabalho de educação histórica, pode ser uma interessante maneira de que tais eventos não caiam no esquecimento e que se minimizem as chances de que voltem a ocorrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário