quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Uma carta de Natal para o Criador




Estimado Criador

Eis que mais um ano dirige-se ao seu termo. Em efemérides como esta, temos a estranha mania de fazer retrospectivas do período que se passou e perspectivas do período que virá. Mas por que exatamente em datas comemorativas? (Não sei. Não é o foco destas linhas. Podemos conversar sobre isso em outro momento).
Antes da virada do ano, comemoramos um importante aniversário. O aniversário da vinda de Teu Filho a este planeta. Certo, o dia de seu nascimento foi estipulado pelos humanos. Mas a divisão do tempo não é uma construção humana? Pode ter fundamento nos ciclos naturais, mas a escolha do fundamento que baliza a divisão temporal é feita pelos humanos. (Mas nessas horas será que estes detalhes são relevantes? Vamos ao que interessa!).
E pensar que, mais de dois mil anos depois da chegada de Teu Filho à Terra, parece que algumas coisas do mundo continuam do mesmo jeito... Guerras. Egocentrismo. Indiferença. Disputas de poder. Intolerância. Fundamentalismo. Radicalismo (à direita, à esquerda, à frente e atrás, em todas as direções). Enfim, todos os “ismos” que possas imaginar... Tanto que às vezes nos perguntamos: com todos os erros que continuamente cometemos, será que temos legitimidade para pedir algum presente neste Natal?
Lógico, muitas vezes nos focamos apenas em nosso lado negativo. Mas não podemos esquecer que também cometemos muitos acertos. Afinal, valores como amor, amizade, respeito, parceria, honestidade e lealdade seguem vigentes. (certo que muitas vezes tais valores caem em uma insensata banalização. Neste caso, nossa tarefa é desbanalizá-los).
Admitindo que somos uma mescla de erros e acertos, e lembrando dos ensinamentos transmitidos por Teu Filho em sua passagem pela Terra, passemos para os nossos pedidos deste Natal.
Em primeiro lugar, que discursemos menos e ajamos mais. Menos alarde e mais efetividade.
Que os nossos pensamentos possam estar em sintonia com os nossos atos.
Que os nossos acertos superem quantitativa e qualitativamente os nossos erros.
Que os valores como amor, amizade, respeito, parceria, honestidade e lealdade deixem de serem apenas palavras bonitas propaladas de forma banal pelos meios e redes. Que sejam efetivamente sentidos e vivenciados em nossas interações, tanto nos bons quanto nos maus momentos, tanto no cotidiano quanto em ocasiões especiais.
Que, nas ocasiões onde esses valores porventura não possam ser exercidos, ao menos o convívio seja regido pelo respeito e pela tolerância.
Que possamos exercer nossa liberdade sem que nos esqueçamos de nossa responsabilidade pelos atos cometidos no exercício de nossa liberdade. E que este sempre respeite a liberdade do outro.
Que busquemos e exerçamos nossos direitos, sempre acompanhados pelo cumprimento de nossos deveres.
Que os momentos de crise que fecham as portas em nossas caras abram novas saídas rumo a novas possibilidades.
Que os nossos trabalhos sejam produtivos e importantes para o próximo, e que sejam alternados com momentos de descanso. E que o dinheiro obtido não seja um fim em si mesmo, mas um meio para que possamos viver com dignidade e permitir ao próximo que também viva dignamente.
Que o nosso conhecimento também não seja um fim por si só, mas um meio para se atingir a sabedoria.
E, principalmente, que esses pedidos não sejam como aquelas manjadas resoluções de Ano-Novo que quase ninguém cumpre. Que consigamos, na medida do possível, exercer tais dádivas com sensatez.
Um agradecimento por todas as dádivas até aqui concedidas e usufruídas. E também um agradecimento por mais esta oportunidade de dirigirmo-nos a Ti no correr destas linhas. Que esta seja mais uma de muitas ocasiões em que possamos conversar e compartilhar nossos atos, experiências, sentimentos e vivências.
Um Feliz Natal e que o novo ano traga novas possibilidades. 

Com carinho

terça-feira, 9 de junho de 2015

Se conhecemos...

"Se conhecemos o adversário e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao adversário, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos, nem ao adversário, sucumbiremos em todas as batalhas"
(Sun Tzu - A Arte da Guerra)

 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Lição de História





(foto de Natã Camilo)

(crônica de caráter literário-opinativo, sem pretensões analíticas)

Já é bastante usual em muitas cidades a presença de placas de identificação de ruas com uma descrição referente ao indivíduo ou fato “homenageado”. Ainda que seja informação de caráter, na maioria das vezes, institucional, não deixa de ser um ponto de partida para algumas reflexões. A começar pelo significado de atribuir um determinado nome, o qual na maioria esmagadora das vezes foi dado por conveniência política por parte de quem esteve no poder. O mesmo motivo costuma ensejar a troca de nome.

Levando isso em conta, em minha última incursão à cidade de Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, chamou-me a atenção as novas placas de identificação das ruas da cidade, que são do modelo acima citado. Algo que me deixou curioso foi a descrição que colocariam na avenida de entrada da cidade, cujo nome é o de um personagem controverso da História recente do Brasil. O mesmo nome que batizava a avenida da entrada de Porto Alegre e que foi recentemente alterado (ainda que poucos se refiram à via pelo novo nome, mas isso é assunto para uma outra oportunidade).

Chegando à cidade, consta na placa: “Avenida Castelo Branco”. Na descrição: “Presidente do Brasil após o golpe militar de 1964”. Como dito antes, informação de caráter institucional. De todos os modos, uma das reflexões surgidas foi sobre a possibilidade de se utilizar os nomes das ruas como ponto de partida para iniciativas de educação histórica tendo como tema os personagens e respectivos contextos históricos.

Assim cheguei à seguinte indagação: será que, em vez de ficar alterando por “canetaço” nomes de ruas denominadas com personagens ou eventos representantes de períodos nefastos da História, não seria mais apropriado mantê-los e utilizar as ruas como espaços de educação histórica? Afinal, essa ideia de que as ruas só devem ter nomes que sejam motivo de “orgulho” não deixa de ser um resquício de uma visão histórica com elementos positivistas, pela qual a História foi construída pelos heróis. Tal concepção de heróis e vilões na História não passa de maniqueísmo, visto que a ação histórica foi realizada pela interação de atores, com suas “virtudes” e “defeitos”, que agiram tendo como pano de fundo um contexto específico em que estavam inseridos.

Ademais, tirar nomes referentes a períodos os quais não queremos que aconteçam novamente não os apaga da História (diga-se de passagem, se começar a tirar todos os nomes controversos, pode-se chegar a um ponto que não vai sobrar nome para contar história). Por outro lado, mantê-los, juntamente com trabalho de educação histórica, pode ser uma interessante maneira de que tais eventos não caiam no esquecimento e que se minimizem as chances de que voltem a ocorrer.

terça-feira, 3 de março de 2015

Verbos intransitivos



Em experiências solo
Os verbos são intransitivos

Sem complementos
Sem eufemismos
Simplesmente
São. (Ponto)

Não se vive consigo mesmo
Se vive. (Ponto)
Não se faz em sua própria companhia
Se faz. (Ponto)
Não se gosta de si mesmo
Se gosta. (Ponto)

Experiências solo
Não são boas
Não são ruins
Apenas
São. (Ponto)

Verbos intransitivos
Sem complementos
Sem eufemismos

Em suma
Não se está só
Se está. (Ponto)
Só.